Papa Francisco morre aos 88 anos no Vaticano

Primeiro pontífice das Américas, Francisco faleceu após um AVC e falência cardíaca. Sua trajetória foi marcada por gestos de inclusão, defesa da paz e apelos contra as mudanças climáticas

O papa Francisco morreu às 7h35, horário de Roma, nesta segunda-feira (21), no Vaticano. O anúncio foi feito pelo Camerlengo Kevin Farrell, da Casa Santa Marta.

"Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja", declarou Farrell.

Ele destacou ainda que Francisco chegou a aparecer na sacada da Basílica de São Pedro para a tradicional mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, no domingo (20), deixando sua última mensagem à Igreja e ao mundo.

“Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, acrescentou o cardeal.

Francisco tinha 88 anos e enfrentava problemas de saúde nos últimos anos. Segundo o atestado de óbito divulgado pelo médico do Vaticano, Andrea Arcangeli, o pontífice sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e teve falência cardíaca.

O AVC ocorre quando há interrupção da circulação sanguínea no cérebro, podendo ser hemorrágico, com o rompimento de vasos, ou isquêmico, causado pela obstrução de artérias. O tipo isquêmico é o mais comum, representando 85% dos casos, mas o hemorrágico é o mais perigoso. Entre os principais sintomas estão confusão mental, fala embaralhada, dor de cabeça súbita, tontura, perda de equilíbrio e formigamento em um lado do corpo.

Francisco chegou a ficar internado por quase 40 dias no início deste ano, em tratamento contra uma bronquite. Mesmo com a saúde fragilizada, manteve parte de sua agenda de compromissos e participou de encontros em sua residência.

Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires, na Argentina, Francisco foi o primeiro papa das Américas e o primeiro jesuíta a ocupar o cargo. Filho de imigrantes italianos e o mais velho de cinco irmãos, formou-se técnico em química, mas ainda jovem decidiu seguir o caminho religioso.

Foi ordenado sacerdote em 1969, aos 32 anos. Tornou-se bispo auxiliar de Buenos Aires e, depois, cardeal, nomeado pelo papa João Paulo II, em 2001. Como arcebispo da capital argentina, liderou uma diocese de mais de 3 milhões de fiéis e criou um projeto missionário focado na evangelização e no cuidado com os pobres e doentes.

Em 2013, sucedeu o papa emérito Bento XVI, que havia renunciado por motivos de saúde. Em 2023, Francisco presidiu o funeral de Bento, e em 2024, descartou uma renúncia, dizendo que não havia motivos sérios para isso.

Ao longo de seu pontificado, Francisco defendeu o diálogo e a paz em meio a conflitos internacionais, como na Europa e no Oriente Médio. Em janeiro de 2025, nomeou a freira Simona Brambilla para liderar um importante gabinete do Vaticano, marcando a primeira vez que uma mulher chefiou um dicastério da Cúria Romana.

Em outubro de 2024, canonizou o padre José Allamano por um milagre atribuído a ele na Amazônia, onde um indígena yanomami sobreviveu ao ataque de uma onça após missionários rezarem por sua cura.

Francisco também foi um dos líderes mundiais mais engajados no enfrentamento às mudanças climáticas. “A Terra está doente”, afirmou em uma de suas últimas mensagens, em agosto de 2024, cobrando ações urgentes de preservação ambiental.

Em dezembro de 2023, autorizou que padres concedessem bênçãos a casais do mesmo sexo fora da liturgia tradicional, em decisão histórica que reforçou o discurso de acolhimento da Igreja.