Caça e água contaminada desafiam os Rikbaktsa na luta por preservar sua cultura
Povo enfrenta impactos do avanço agrícola em suas terras e busca fortalecer tradições

"A gente nunca irá deixar de ser indígena." Com essa afirmação, o cacique Ademir Rikbakta, da aldeia Beira Rio, na Terra Indígena Erikpatsa, no Mato Grosso, expressa a resistência cultural dos Rikbaktsa, mesmo diante das adversidades que ameaçam sua sobrevivência e identidade.
Entre os principais desafios enfrentados pela comunidade estão a redução na disponibilidade de caça, a contaminação das águas por agrotóxicos provenientes das lavouras de milho e soja ao redor de seus territórios e a diminuição de polinizadores essenciais para a vegetação local. "Hoje, estamos com meu povo lutando", disse o cacique Ademir, destacando a necessidade de preservar costumes como a dança tradicional, a língua materna e a produção da chicha, bebida típica.
A luta pela manutenção das tradições culturais é notória em aldeias como Beira Rio, Pé de Mutum e Barranco Vermelho, onde os Rikbaktsa se esforçam para ensinar a língua, a arte e os valores do povo às novas gerações.
Impactos do avanço agrícola
Na aldeia Pé de Mutum, o cacique Francisco Rikbaktsa chamou atenção para a escassez de recursos provocada pelo cercamento das terras indígenas pelas lavouras. "A gente era grande e tinha fartura de peixe e carne de animais. Hoje, estamos cercados. Em volta, é lavoura, e tem a questão de contaminação da água por agrotóxico", lamentou.
Na aldeia Barranco Vermelho, Lauro Ruwai Rikbakta, responsável por uma refeição que incluiu caça e peixes, destacou as dificuldades crescentes para obter alimentos. "A caça, que era encontrada com uma caminhada de um quilômetro, agora está a cerca de 15 quilômetros. E para encontrar alguns animais, precisamos ir até 60 quilômetros."
Educação como ferramenta de resistência
A inclusão da cultura Rikbaktsa no ensino escolar é uma das estratégias usadas para manter vivas as tradições. Em escolas como a Myhyinymykyta e a Pé de Mutum, os estudantes aprendem a língua, as danças e os costumes do povo indígena. "A gente transforma as histórias para que as crianças possam entender. Estamos começando a ser os protagonistas da nossa própria história", explicou Givanildo Bismy, professor e mestrando em literatura indígena.
No entanto, a falta de materiais didáticos específicos dificulta o trabalho pedagógico. "Recebemos materiais de fora que muitas vezes não servem para nosso povo", afirmou a professora Gesilene Aikdopa, que acredita que o ensino cultural deve preparar os jovens para contribuir com a comunidade, mesmo que se qualifiquem fora das aldeias.
Sonhos e o futuro da comunidade
Rogerderson Natsitsabui, da aldeia Pé de Mutum, planeja cursar Direito e advogar pela causa indígena. "Nunca vou deixar o que aprendi aqui. Meu foco sempre foi Direito, e não desisti disso", declarou.
Para o Rikbaktsa, como reforça o cacique Ademir, preservar sua identidade indígena é um compromisso que atravessa gerações, independentemente das mudanças e dos desafios que enfrentam. "A gente precisa mostrar quem somos. Isso nos fortalece."
Fonte: Agência Brasil
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